quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Gente de Pés ligeiros

Gente de pés ligeiros: A situação de miséria das tropas coloniais multiplicava as deserções e justificava rebeliões como as das tropas de Salvador nos séculos XVII e XVIII.
Durante a União Ibérica (1580 - 1640) a Colônia que hoje chamamos Brasil, sofreu com invasões dos holandeses nas capitanias nordestinas, sobretudo Bahia e Pernambuco. O comandante das tropas luso-espanholas Bagnuola disse em uma carta ao rei espanhol Felipe IV no ano de 1663 que os soldados da colônia serviam-se mais dos pés deles do que das mãos, ou seja, os soldados não perdiam uma oportunidade de desertar (fugir) sendo considerados covardes por parte da Coroa. Mas que soldados fujões são esses? De onde vieram esses militares que não representavam os interesses da Coroa luso-portuguesa? Quando Portugal se rebelou contra o governo espanhol e voltou a ser uma Monarquia Nacional independente as tropas na colônia brasileira se sentiram também no direito de rebelar-se para ter uma condição de vida melhor, pois as ferramentas de trabalho eram medíocres, os soldos atrasavam meses, etc. Com essas adversidades os soldados que viam de classes não privilegiadas pela Coroa fugiam para tentar sustentar sua família de uma maneira mais segura. A Coroa Portuguesa queria que seus soldados em domínios ultramarinos fossem todos portugueses, porém com os conflitos na Europa entre a Coroa Espanhola e os portugueses não era possível disponibilizar os soldados para a América. Sendo assim muitos soldados eram recrutados entre “brancos pobres”, “pardos”, “mulatos” e “todo tipo de mestiços” que não tinham nenhum interesse em defender o território, pois não havia um sentimento do ser brasileiro, e nem de defender a Metrópole tão longe geograficamente, eles eram praticamente obrigados a aceitarem esse trabalho que como foi dito antes eram mal remunerados, os soldos atrasavam, eram mal vestidos, mal equipados, etc. O sistema de pagamentos desses soldados era centralizado nas Câmaras Municipais que se encarregavam de pagá-los, porém esse pagamento era feito geralmente com farinha de mandioca. Para saírem dessa situação os soldados tinham duas opções: fugir dos quartéis e correrem o risco de serem considerados desertores e se apanhados seriam considerados culpados e possivelmente seu destino era a execução, e outra maneira de lutar contra a Coroa era a rebelião, que até antes da rebelião de Portugal contra a Espanha era demonizada pela sociedade. Mas como os soldados eram também súditos de Portugal, tinham direitos a serem preservados, como o de um salário pago em dia, boa condição de trabalho, etc. Assim estava garantida a rebelião como um ato aceitável para conquistas de melhorias. Um grande exemplo de uma rebelião foi em Salvador (aproximadamente 1688) por tropas da Capitania baiana que rebelaram-se contra a coroa. O cenário foi feito da seguinte forma: uma grande epidemia de febre amarela, uma grande seca entre os anos de 1688-89, mortes, queda de produção, na arrecadação de impostos, os soldados não suportaram a pressão e se uniram para conquistar melhorias em seu trabalho. Eles exigiam o pagamento de três pagas (cerca de nove meses de salários) e caso não fossem atendidos eles ameaçavam atacar a cidade de Salvador. Além de exigirem que não fossem considerados culpados pelo crime de rebelião, que como dito anteriormente era um crime que geralmente levaria a morte. Temendo uma revolta incontrolável a Coroa concedeu os pedidos dos soldados e somente um soldado foi preso e enviado para Angola como degredo.
PITANGA, Fernando. In:Revista de História da Bilbioteca Nacional. Ano I. número 13, página 57-61.

Um comentário:

Unknown disse...

Prezado, este texto é uma ADAPTAÇÃO ao original, publicado na RHBN em outubro de 2006. Constam alguns equívocos e imprecisões que sacrificam o sentido original do texto. Agradeço a citação mas pediria que ela fosse feita de modo correto.

Atenciosamente, Fernando Pitanga