domingo, 28 de novembro de 2010

A história do Brasil na poesia de José Paulo Paes

A Fuga

Tendo a espada renegada
De Napoleão, sem medir
O desmedido da afronta,
Picado nossos fundilhos,
houvemos por bem partir.

Houvemos e nos partimos
Erário, corte e monarca,
Deixando o povo no cais.
Não há lugar para o povo
Nas galeotas reias.

Fizemos longa viagem
Sobre mar tempestuoso,
Topando muitos escolhos.
As damas da comitiva
Sofreram muitos piolhos.

Arribamos finalmente
A porto certo e destinos,
As gentes se jubilando
Desta colônia, em que temos
Firme acento inteiro mando

Houve, fogança nas ruas,
minueto no palácio,
Salvas, missas, bandeirolas.
Com rara munificência
Distribuíram-se esmolas

Sendo nossa volta ao reino
Coisa do arbítrio divino,
Houvemos então por bem,
Fundar aqui passo digno
De tão subido o inquilino.

Abrimos os portos à
Mercancia universal,
que a ceifa de impostos cobre
E paga o luxo devido
Ao nosso fausto de nobres.

(Posto que muitos barões
Inumeráveis viscondes
Devorem todo o orçamento
Haveis de convir que são
fonte de extremo ornamento!)

Por esses raros cruzados
que vos custamos, ganhais
benefícios de tal monta,
que foram imprensa afanosa
deles prestar boa conta.

Ganhais bancos, onde há renda,
Biblicamente avisada,
Se cresce e se multiplica.
E liceus de sapiência
Onde a mente frutifica.

E mais: doutores, legistas
E mestres de muito oficio.
E o áureo clarim da imprensa,
Cujo o som, de forte e grave,
Não há mordaça que trave.

A estrela da liberdade
Ao cabo tendes na mão.
Lembrai-vos, pois, deste rei
Gordo, pávido, risonho,
Que fugiu de Napoleão.



PAES, José Paulo. A história do Brasil. Editora Global, São Paulo. 2006, p. 28-29

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