Os navegantes
Tenham sanhas, querelas, tempestades,
Os mares nunca dantes navegados.
No rude mais se amplia e mais se apura
A estirpe dos barões assinalados.
Cante o vento na rede das enxárcias.
Afane-se o marujo na partida.
Impe o velante inquieto, corte a proa
O infinito das águas repetidas.
Ande a estrela cativado astrolábio.
Mostre a bússola válido caminho.
Nas cartas se escriture todo achado
E fama nos virá em tempo asinho.
Achar a nossa lida mais constante
E lucro nosso empenho mais vezeiro:
Hemos a gula vil do mercador
Num coração febril de marinheiros.
Pene o mouro da gleba, que buscamos
Não colheitas de terra, mas navais.
No comércio marítimo fundamos
Opulência, destino, capitais.
Almejamos Cipangos misteriosas,
Fabulosas Catais, Índias lendárias.
As latitudes são-nos desafio,
Sendo as ondas do mar nossa alimária.
Diga o zarolho, pois, da grã porfia
Da lusitana grei contra o oceano,
Recorde embora o Velho do Rastelo
Da fama e da ambição e ledo engano.
Um dia, nos brasis de boa aguada,
Havemos nosso ocaso de encontrar
E, algemado à Conquista, há de morrer
Aquele Império que nasceu do mar.
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